O Projeto Vozes dos Quilombos da Defensoria Pública do Estado do Piauí, serviu de inspiração para o desenvolvimento de Programa de Extensão da Universidade Estadual do Piauí (Uespi), no Campus Professor Possidônio Queiroz, em Oeiras. A iniciativa foi do professor, doutor em Literatura e atual diretor do Campus Possidônio Queiroz, Harlon Homem de Lacerda Sousa.
De autoria e coordenado pela Diretora das Defensorias Regionais, Karla Araújo de Andrade Leite, o projeto Vozes dos Quilombos tem por objetivo estreitar laços entre a Defensoria Pública e as Comunidades Quilombolas, garantindo uma atuação satisfatória e efetiva, atendendo as demandas e necessidades sociais das comunidades tradicionais, além de atuar como intermediador, junto ao gestores públicos, na integração de políticas públicas para essas Comunidades.
Já tendo sido executado junto as Comunidades Quilombolas Custaneira, na zona rural de Paquetá do Piauí; Amparo, em Simões, e Canto Fazenda do Frade, em Oeiras, o Vozes dos Quilombos vem alcançando resultados satisfatórios, como a construção de uma passagem molhada para facilitar o acesso ao Quilombo Canto Fazenda do Frade na época das chuvas e o compromisso da Secretaria de Educação de Simões para a manutenção do Ensino de Jovens e Adultos, o EJA, na Comunidade do Amparo, bem como o compromisso de que as manifestações culturais provenientes do Quilombo serão inseridas na Semana Cultural do Município.
Segundo o professor Harlon Homem, no ano de 2019, durante as comemorações do Dia da Consciência Negra no Campus Possidônio Queiroz, ele teve contato com integrantes da Comunidade Quilombola Canto Fazenda do Frade, que destacaram a atuação da Defensora Karla Andrade e o projeto Vozes dos Quilombos como referência e símbolo de luta pelas comunidades quilombolas da região. O professor diz que também obteve boas referências sobre o trabalho da Defensora por parte de outros docentes da Uespi. “Comecei a procurar as postagens da Defensora Karla Andrade sobre o projeto e vi a luta dela pelos direitos das Comunidades Quilombolas, como o Vozes dos Quilombos tem tido ações extremamente importantes em Oeiras e, juntando esses dados mais os relativos ao movimento Vidas Negras Importam, ocorrido neste ano nos Estados Unidos, assim como também aqui no Brasil, fomos construindo nosso Programa de Incentivo a Realização de Iniciativas Orçamentárias para as Comunidades, o Pirão”, explica.
Harlon Homem destaca que o Pirão será desenvolvido em quatro Projetos, sendo o primeiro o Observatório Esperança Garcia, Possidônio Queiroz e Direitos das Pessoas Negras e das Comunidades Quilombolas, que é voltado para o acolhimento divulgação de informações, acompanhamento das pessoas negra na luta por seus direitos, informando sobre o Estatuto da Igualdade Racial, as leis de defesa das pessoas negras e leis de cotas. “A primeira pessoa que nos correu para chamar como parceira na execução desse Projeto foi a Defensora Karla Andrade, com o Vozes dos Quilombos, para que a gente pudesse ter esse vínculo e uma execução realmente firme para defesa dos direitos das pessoas negras e Comunidades Quilombolas”, afirma.
O Programa de Extensão já foi aprovado no Colegiado do Curso de Letras, no Conselho do Campus Professor Possidônio Queiroz e está cadastrado na Pró-Reitoria da Uespi. “Realizamos a apresentação, por videoconferência, com a presença do Magnífico Reitor Nouga Cardoso; da Defensora Karla Andrade; de representante do Território Vale do Canindé, pela Seplan e de estudantes e professores da Uespi. Foi um momento único, porque ganhamos apoio institucional muito importante e vamos começar a pensar na execução do Projeto para o início de setembro, viabilizar parcerias e realizar de fato o Programa. Estamos na primeira fase, de preparação, depois virá a divulgação e a terceira será a adoção das ferramentas online, situação imposta pela atual pandemia”, explica o professor.
Inspirado no Vozes do Quilombo, o Programa de Extensão Pirão contará ainda com mais três fases que são a Feira Livre, que levará para dentro da Universidade produtos orgânicos e artesanato produzidos pelas comunidades, além de eventos culturais da região; o Leitura Livre, destinado a levar educação popular profissionalizante, técnica e acadêmica para as Comunidades Quilombolas, rurais e periféricas e o Banco Pirão, relativo a criação de um Banco Comunitário com moeda própria voltado para alavancar o desenvolvimento comunitário. “Essa última etapa só será possível realizar após a imunização universal da população contra a Covid-19”, avalia o professor.
Para a Defensora Pública Karla Andrade ter o projeto Vozes dos Quilombos servindo de inspiração para um projeto de extensão de uma universidade pública é algo extremamente gratificante. “Me senti muito honrada por o professor Harlon Homem ter se inspirado em nosso projeto e acredito que temos muito a aprender juntos, a Defensoria com essa assessoria judicial e extrajudicial aos Quilombos e a Uespi com um mundo de possibilidades que estão ofertando para as Comunidades Quilombolas. Acho que são portas se abrindo e que só tendem a fortalecer a causa quilombola”, afirma a Defensora.